Contos Ruralinos

Capítulo 43 - SUCINTO

Após me formar fui trabalhar em Formosa do Rio Preto perto de Barreiras na Bahia, fiquei por lá um ano e depois vim para o ES.

(História de Eugenio Jose Agrizzi - 1980)



Capítulo 42 - ADICIONAL DO CONTO 33

Aqui um adendo à história contada por um aluno chamado Claudio Henrique C. do Carmo (cap. 33 dos Contos). Como colega de quarto(aí já no alojamento) de Marcos Aurélio de Amorim Almeida aluno do curso de MV citado pelo contador de ESTÓRIAS como tendo "botado a viola no saco" para o Xique-Xique por ter ele jogado uma cadeira em cima do Corcel do Marcos ou alguém que lhe contou deturpou o ocorrido ou o mesmo era um tremendo pela-saco do mesmo pois de fato fomos eu e ele no quarto do Xique -Xique ( que se dizia sobrinho-neto de Lampião ou algo que o valha) tomar as devidas satisfações a ali mesmo todos se entenderam. No meu quarto que não me lembro exatamente o nº, até porque morei em vários não tinha arregão. Morávamos eu, o Pantanal (Matrogrossense arretado), o Marcos (falecido num acidente automobilístico na Dutra quando íamos na casa das primas em Paracambi), o Macaco(aluno de Floresta), Merê (que espancou o prof. de caratê da Rural e outros...então antes de postar histórias inverídicas procurem saber a verdade dos fatos... Naquele quarto não era o bixo e sim "O BICHO SOLTO".

(História de Leonel Aguar da Silva - 1976)

Capítulo 41 - PÉ DE QUIABO

Eu era aluno da turma de Agronomia e morei tanto no 49 quanto no alojamento e no 49 um dos moradores da república era o Merê (João Emerenciano), gente finíssima aluno da turma de 1974 de Agronomia.
O supra-citado semeou no quintal de casa sementes de quiabo que ao germinarem ouviram diariamente elogios do Merê quanto aos dicotilédones recém-germinados como também à área fotossintética foliar.
Com o passar dos dias a planta vai crescendo até que por fim sugem os primeiros frutos dão tão aguardada MAMONA!!!! Em tempo: Merê era um tremendo playboy de Copa e acho que hoje trabalha na Secretaria Estadual de Agricultura em cargo administrativo. Ainda bem !!!! Hahaha. Mas foi sempre um amigo para todas as horas.

(História de Leonel Aguiar da Silva - 1976)


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Capítulo 40 - UM ESTRANGEIRO RURALINO

Meu nome é Liberato Montenegro sou panamenho formado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro KM. 47, QUARTAO -72.
Minha chegada na Escola Nacional de Agricultura foi dada em fevereiro de 1969, eu fui selecionado no meu país para estudar no Brasil, quando eu cheguei realmente não sabia qual seria meu destino ou universidade de estudo universitário, naquela época viajávamos todos os estudantes selecionados a cidade do Rio de Janeiro, no ministério de educação nos tomamos a decisão final de qual seria a faculdade para participar de cursos universitários, minha escolhia foi para o UFRRJ Km. 47 sobre a recomendação de um ex-aluno de pós-graduação no Brasil.
Deshacer cambios
Eu vim para a faculdade no final de fevereiro, instalando-me no quarto n º 424 onde só moravam panamenhos, dando com isto início a uma nova fase da minha vida. Embora pareça um romance meus primeiros meses na escola eram extremamente difíceis, porque todos os alunos novos realizavam cortes no cabelo com um desenho para identificar como um novato ou "Bixo", ao qual eu não estava acostumado, tornando-se isto a nossa identificação, cada vez que visitavamos a qualquer área dentro da universidade que não fora para assistir o curso normal deveríamos ser acompanhado por um veterano ou quando fomos para o restaurante teve que ser acompanhado por um deles caso contrário para você era em um mundo difícil de sair do restaurante, porque sem alguém para protegê-lo devido a que se qualquer veterano pediu-lhe para se sentar e você tinha fazê-lo por respeito a esperar o consumo final e levar as bandejas para a cozinha chamado trote o que eu realmente naquela época não entendia, mas era uma maneira linda de fazer amizades com colegas que compartilham anos de estudo, o trote finalizava 13 de maio, mas isso não era tudo eu não entendia, não falava, não lia e não sabia nada de Português o que fazia nossa situação ainda mais difícil, a melhor parte de tudo isso foi quando iniciamos o curso de agronomia assistiamos as aula como espectador porque não tinham recebido qualquer instrução no idioma Português, não entendia nada, tive que fazer um esforço de vontade bastante grande, tivemos que aprender a língua, falar, escrever, ler e estudar ao mesmo tempo, juntamente com isso não tem família próxima que pode ajudar por isso tivemos que resolver tudo por nós mesmos e com a ajuda de alguns gringos, para mim foi um grande desafio que gracas a deus foi resolvido felizmente e logre me formar em quatro anos, o que demonstra que não há nada impossível.

Em meu primeiro curso de atendimento de cálculo diferencial e integral ditado pelo ilustre Professor Homero que deu suas aulas com grande energia e clareza, após a saudação de boas-vindas para o curso começou a escrever nos dois cuadros dando inicio ao curso de matemática com hieróglifos certamente nao entendia porque eu não sabia o que significava "CHIS E IPSLON" tentando imitar o que foi escrito, mas não termine de copiar o primeiro quadro quando o profesor Homero apago tudo o primer cuadro ficando sem saber o que fazer, ficando sentado no anfiteatro ouvir por três horas como um mero telespectador e decepcionado por não entender nada tudo era apenas fórmulas, retornando ao alojamento a pensar seriamente e muito decepcionado esse problema tenia que resolver de alguma forma, quando eu estava sentado na cama veio nesse transe um colega e me dizendo que todos eles também tinha acontecido, mas nós teniamos que mostrar a nossa capacidade e nossa força de vontade foi tão grande que não houve dificuldade que não conseguiu superar, e ao fim do primeiro ano logre passar todos os assuntos, incluindo a química analítica do famoso professor Albaido que cada aluno naquela época sabe o que eu quero dizer o quão difícil assunto. ..

Durante o período de férias e dias de fin de semanas todos os brasileiros viajavam para suas casas para estar com suas famílias e alguns estrangeiros também, mas nós não temos recursos suficientes para pagar e sair em algum lugar e deviamos ficar em alojamento universitário até o início do próximo curso, não celebravamos o Natal ou ano novo para nós todos os dias era o mesmo, tinhamos notícias de nossas famílias uma vez por mês, quando recebemos cartas com o dinheiro que poderia enviar os nossos pais e sobreviver.
Eu aprendi o idioma e mesmo depois de 40 anos continuo a falar, tentando escrever e ler, agora me comunico com os meus colegas no Brasil. Assim o tempo passou entre cada dificuldade, depois de três anos sem ver qualquer familiar meus pais me enviou esse ano passagem aérea para visitar eles durante as férias, e no dia que eu estava esperando na saída do prédio do alojamento para pegar o ônibus para a cidade do Rio de Janeiro minutos antes da partida apareceu Claudia que era uma das colegas do curso de agronomia me perguntando que para onde eu viajava e eu brincando, disse a ela que estava voltando para o meu país, porque meus pais já tinha escrito não poderia continuar a pagar a minha estadia na faculdade ela não acreditava fico muito séria e triste, se aproximou de mim sem me dizer nada de repente ela pegou minha mala caminhando para seu carro e ela me disse que eu não poderia sair para qualquer lugar, porque Eu tinha que terminar a me formar faltando apenas um ano que era injusto para mi e ela me levaria para su casa e Eu seria atado a perna de sua cama e não ir embora, a tudo isso ela estava chorando porque ela disse que não era possível e que iria convocar uma reunião de todos os colegas para me apoiar e me formar com eles no final desse ano, quando eu vi ela chorando me deu muita dor de ver que por uma piada eu estava brincando com os sentimentos de alguém que não sabia me apreciara tanto, então eu disse a ela que Foi uma brincadeira e voltaria no final de fevereiro para concluir o curso que só iria visitar meus pais, coisa que ela não acreditava então eu tive que jurar e poderia confirmá-lo antes de iniciar o curso que ela foi verificar, esta situação me marco muito porque eu não sabia o quanto era apreciado por alguém com quem havia compartilhado apenas três anos de escola, eu lembro daquele dia hoje como se fosse ontem o que aconteceu, para mim ela é e será uma pessoa muito especial, por isso foi uma grande alegria o pode-me reunir com ela e dar-lhe um grande abraço no encontro de Rio de Janeiro em setembro de 2012.

Em 2012, depois de 40 anos eu tive a oportunidade de voltar para a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro com minha esposa Dora e encontrar novamente com meus colegas da turma quartão 72 em uma reunião e visitar a faculdade , colocar uma placa para comemorar 40 anos de formados. Uma experiência única e inesquecível, que eu nunca pensei que um dia iria voltar para o Brasil, e muito menos que me encontraria com meus colegas. Graças ao adelanto da tecnologia hoje em dia me comunico com eles algo que eu sempre vou apreciar uma amizade que se tornou mais do que uma experiência de vida.
Obrigado a todos os meus colegas, especialmente Claudia, Celio, Murilo, Landry, Benedito Ademir, Marcio, Mara, Roberto,Cosme, Fernando e todos os outros colegas por seu apoio e amizade sempre lembrarei com muito amor e se Deus permitir tentar em asistir a outros tantos encontros , muito obrigado.

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Capítulo 39 - CAFÉ DO BANDEX

Foram 4 anos fazendo agronomia, 1 ano e meio no sexto alojamento (favelão) e 2 anos e meio em república.
Anos sem 1 tostão no bolso, mas foram nos de valor inestimável para a minha vida. Estudava 14 horas por dia, mas me formei com 4 anos como um bom aluno da turma. Aprendi a comer qualquer coisa, pois o bandejão era terrível. Tomei trauma de banho frio e café frio. Café morno ou frio até hoje consigo identificar pelo cheiro, pois o bandejão quando abria eu tava na porta e o café já estava frio....
Valeu muito.
Não imaginava que aqueles 4 anos alterariam a minha vida completamente. Fiz uma carreira interessante em indústrias e com 15 anos de formado consegui chegar a diretor de empresa multinacional.

Agradeço a Rural e a todos que conviveram comigo naquele período.

(História de José Luiz Monteiro de Siqueira - 1976 a 1979)

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Capítulo 38 - BANHO NA PISCINA

    Bom, isso aconteceu entre tantas coisas inusitadas que nós, ex-alunos da Rural, tivemos que enfrentar. 
    Me lembro que teve um problema com o abastecimento de água da universidade e nós, que éramos de outros estados, eu particularmente do Espírito Santo, tínhamos que continuar morando nos alojamentos, mesmo com a falta d'água. 
    E daí como não tínhamos água para o banho, o pessoal começou a usar a piscina principal para tomar banho, sim, a piscina olímpica, e no final de poucos dias, a piscina parecia uma imensa banheira cheia de sabão, sim, era uma imensa bolha de sabão; de tarde só via a galera de toalha nas costas com um sabonete na mão indo em direção à piscina, na intenção de tomar um banho. Funcionou por uns 2 ou 3 dias, depois ficou impraticável! 
    Daí, encontramos uma torneira la no meio do campo experimental de irrigação, que se tornou nosso chuveiro improvisado até passar a crise! 
    Ô saudades da Rural!

(História de Domingos Savio De Martin - 1983)


Capítulo 37 - BOMBEIRO? SÓ EM CAMPO GRANDE!

     Em um fim de tarde de 1984, uma Sergipana conhecida como Selma Baiana protagonizou uma cena
inesquecível. Ela foi até o quarto 18 do F1 (para quem não lembra, este quarto fica no 1º andar do F1, tem as janelas com grades e fica de frente para a rua), quando resolveu voltar para o seu alojamento que ficava no F2, ficou com preguiça de dar a volta até a sala de TV e soltou o bordão:
"Onde passa a cabeça, passa o resto!".
    Mirou as grades e passou a cabeça. Porém, o inesperado ou esperado ocorreu, o corpo não passou e ela não conseguiu tirar a cabeça das grades.Todos que passavam na rua e se deparavam com aquela cena achavam que era mais uma brincadeira da Selma, que era famosa por seu jeito brincalhão.
    Pasmem, mas ela ficou com a cabeça presa por aproximadamente 2 horas, ninguém se aproximava para ajudar pensando que seria vitima de alguma pegadinha. E gritavam de longe: "Passa óleo na orelha! Passa manteiga que a cabeça sai! ...".
    Quando anoiteceu e o bandejão abriu, alguns perceberam que ela continuava lá, pedindo socorro, então
correram para socorrer. A essa altura as orelhas já estavam inchadas e vermelhas.
    Foi quando alguém pegou uma chave de fenda e sugeriu desparafusar as grades para ser removida pelos
bombeiros. Ao perceber que seria transportada em uma caminhonete com a grade no pescoço, Selma gritou: "BOMBEIRO? SÓ EM CAMPO GRANDE!"
    Se desesperou, pediu azeite, untou bem a cabeça e finalmente se soltou das grades.

(História de Isabel Cristina Anjos - 1984)


Capítulo 36

    Esse ano, não sei se souberam, afinal quase todo mundo soube, houve ocupação da reitoria e eu estava lá, naquele que seria o auge do meu envolvimento político desde que eu ingressara na faculdade em 2010. 
    Uma das nossas tarefas era a de passar de sala em sala para falar da ocupação e, sendo assim, todo mundo sabia que eu estava envolvida na ocupação e eu sabia que qualquer deslize quanto à notas seria imputado à ocupação. Afinal, muita gente acredita que estudante que não seja das áreas de humanas não tem que se envolver com política, apenas estudar dentro da sala de aula e fora dela. Sim, eu ouvi isso várias vezes de colegas, professores e só quem me apoiou e achou interessante esse envolvimento, que seria o professor Carlos Henrique de patologia clínica (professor ótimo pelo qual tenho muita admiração). 
    Eu sabia, racionalmente, que não deveria decepcioná-lo quanto à nota e eu gostava da matéria, nutria um interesse sincero pela mesma. Mas os dias passaram, a véspera da prova chegou e, por mais que eu tivesse estudado, minha mente hiperativa não conseguia ignorar totalmente as músicas (visto que tinha roda de violão toda noite para animar nossos colegas que estavam responsáveis pela segurança a se manterem acordados). 
    Só sei que era ouvir música e estudar e estudar e ouvir música ao mesmo tempo, no meio do Nando Reis enfiava um hematócrito, um VGM entre o Raul Seixas, os eosinófilos surgiam durante os Los Hermanos e por aí ia.       E quando sentei para fazer a prova eu só conseguia pensar em músicas. Não queria entregar a prova em branco e mostrar displicência ou desprezo pela matéria, então, me dediquei a um hobby: relacionar as questões a trechos de músicas, eu só queria que o professor de alguma forma pudesse extrair alguma diversão daquela correção, captar que, mesmo nos momentos de lazer, eu estava pensando na matéria dele. Por exemplo, se a questão é relacionar a saúde dos cascos e dentes à anemia, eu respondia "seus dentes e seus sorrisos mastigam meu corpo em juízo, devoram os meus sentidos e eu já não me importo comigo" e, às vezes, eu tinha uns "insights" e a resposta ia parar no meio do trecho da música.
    Acredito que minhas melhores intenções não foram compreendidas, pois o professor me aplicou uma reprimenda. Mas, entre mortos e feridos, tirei 4,3 na prova, passei com optativa e terminei a matéria. E espero que o professor lembre-se sempre dessa prova e que isso alegre um pouco o seu dia, pois tudo que eu queria era que ele não ficasse frustrado por uma aluna não ter entendido nada que ele ensinou, mas sim que ele sorrisse por ela ter aplicado isso de uma forma quase poética na sua vida.

Eu sei que pensando só no meu bem você disse que "para se envolver com política e fazer curso difícil o aluno tem que ser muito bom", mas eu acho que para ser um bom cidadão "Há que endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura." - Che Guevara.

Obrigada por ser um dos melhores professores da minha graduação.

(História de Juliana Pereira de Paula - 2013)


Capítulo 35


    Meus cinco anos de rural foram muito marcantes. A vida rural foi minha primeira experiência de independência, de aprender a me virar sozinha, de me relacionar com outras pessoas e ter jogo de cintura para dizer "sim" e "não".
    Foi na rural que rolou o primeiro amor, o primeiro beijo e a primeira decepção amorosa, mas que veio seguida do segundo amor (ainda melhor) e da segunda decepção amorosa (ainda pior que a primeira). Quando entrei para a rural, fiquei muito feliz, era lá, mesmo sendo longe, que queria estudar! 
     Naquela época tudo era novidade: Pegar chuva no caminho 49-47 e chegar ensopada depois de pedalar, atravessar estes 2km sob sol escaldante, tomar banho de 20h pela manhã cedo antes da aula, pegar carona no carro do batalhão de choque, bem cedo, nas manhãs frias do mês de junho, voltar tarde após as aulas de monitoria de anatomia... tudo era festa! 
    E foi em um semestre do ano de 85 que conheci meu mais especial namorado, puxando uma matéria no IB, parasitologia!! Ele, pra me impressionar (pois era tanto ou mais tímido ainda do que eu), encheu a boca de biscoitos pra mostrar que cabia quase um pacote inteiro... depois de provocar meu sorriso é que se chegou para conversar.
    Tenho muita saudade do nosso relacionamento, que acabou pouco depois (ou pouco antes) de nossa formatura, ele era minha melhor lembrança e vínculo com este período tão especial de minha vida. Quando ele se foi, foi como se o registro de meu período de rural tivesse sido ofuscado, nublado, sei la. Ele se casou depois, isso já tem mais de 20 anos! Imaginem! 
E, para minha surpresa, encontrei um perfil dele no facebook, quando olhei o status... está divorciado! 
É, suspirei. Incrível. Mas olhei as fotos dele, já mais velho, mostrando sinais cansados da idade... é impressionante, mas olhei a foto, os olhos dele, e reconheci o olhar daquele rapaz de 20 anos que conheci no passado.
    Estávamos sempre juntos, casal tipo inseparável. Mas é assim, a vida nos surpreende. Vamos ver, quem sabe eu não restabeleço contato e retomo o vínculo... é isso! 
Como dizia um amigo nosso que fazia 'pós' enquanto cursávamos graduação: "Vocês vão ter muitos 'adrivinhos'!" (risos).

(História de Adriana C. – 1984-1989)


Capítulo 34

Telecomunicações... 
    Sendo professor de Folclore e Cultura Popular na Universidade Estadual do Ceará, estou sempre comentando com meus alunos a respeito de adaptações e transformações culturais, ao longo de gerações. 
    Meus alunos (1º semestre do curso de Educação Física) oscilam de seus 17 a 22/24 anos, em média, e percebo a imensa dificuldade que têm em entender o que era a vida cotidiana de seus pais e avós, dadas as enormes modificações estabelecidas pela revolução científico tenológica das últimas décadas.
    Uma das áreas onde, não raramente, me sinto um quase sobrevivente paleolítico na Pós Modernidade em que vivemos é, inegavelmente a das Telecomunicações. Ao chegar pela primeira vez à Rural, em março de 1976, poder obter notícias de casa era quase uma novela mexicana; tínhamos de ir ao P1, geralmente à noite, quando dava uma folga nas aulas e outras atividades de nosso dia a a dia, nos dirigíamos à 2ª sala à direita de quem acessa pela frente, no corredor do térreo, onde ficava a Central Telefônica. 
    Alí, duas ou três telefonistas anotavam nosso pedido (local e número) e podia relaxar porque, invariavelmente, se teria que esperar, variando entre 15 minutos (quase um milagre e se não houvesse ninguém na fila, antes de si, em dias de semana, não era raro encontrar uns 10/15 aguardando) e algumas horas... 
    Se fosse para o exterior, podia contar que se ficaria umas 2 a 3 horas na fila de espera. As cabines de madeira não davam privacidade alguma e o comum era todo mundo acabar ouvindo o que se dizia, ao telefone. Se chovesse, nem adiantava sair do alojamento, ou do "49" para lá, porque a probabilidade de se conseguir ligação era menor ainda do que a de algum "bicho" conseguir se dar bem em Química Geral com a Profª Arigelinda (Nas madrugadas dos alojamentos ecoava o grito: "Vai estudar Geral, bicharada! Abre o olho, que a Linda vai lascar vocês!!"). E, quando finalmente se conseguia falar com quem se queria, não havia garantia alguma de que a pessoa almejada estivesse te escutando... pense nos berros, então: "ALÔ, ALÔ, ALÔ,...".
     Ligações cortadas eram comuns, irritando quem não estivesse estoicamente preparado para o sufoco de quase sempre. Houve gringos que saíram chorando da Telefônica, não apenas pelas saudades de casa, como pelo simples fato de, enfim, conseguir falar com seus parentes/amigos distantes. 
    Enfim, parafraseando Roberto Carlos, eram tantas emoções... 
    Da próxima vez em que tiver vontade de xingar a Claro/Tim/Oi etc. e atirar seu celular caríssimo de 2/3 chips no lago, repense e se sinta um privilegiado globalizado, ao invés disso.

(História de Claudio Henrique Couto do Carmo – 1976/77)


Capítulo 33

    Xique-Xique era (como o apelido sugere) um baiano, aluno de Agronomia, mais ou menos 1.90m, forte pra burro e que, além do porte físico, chamava a atenção por duas peculiaridades super marcantes. Primeira, chamava sua namorada de "Jumentinha" (eles namoravam embaixo da "Ponte dos Suspiros", entre a sala de TV e o corredor do F1). A segunda era a que mais se destacava: quando sóbrio, era a pessoa mais agradável, educada, cordial e prestativa que se pudesse imaginar. Se visse alguém precisando de ajuda, corria para se oferecer, fosse o que fosse.
    Resumindo: todos gostavam e muito dele! Agora, era só colocar uma gota de cachaça na boca... que virava um monstro! Quando se escutavam os gritos (3º andar do 2º alojamento), ninguém era besta de sair no corredor.
    Numa vez, fizeram raiva nele num desses momentos de monstruosidade. A resposta veio em forma de um murro na porta do quarto, que rachou a pobre (não sei hoje, mas na década de 1970 as portas dos quartos eram de madeira maciça e bem grossas)! Em outro episódio, arremessou uma das cadeiras antigas da sala de estudos (super pesada e ergonômica), que foi aterrizar no capô do Corcel I de um "borra" da MV (7206...). O careca, dono do carro, engoliu em seco quando viu o estrago (era daqueles de teto de vinil preto), teve o bom senso (e o instinto de conservação) de deixar passar e só o procurou no dia seguinte. Quando o Xique, já curando o porre, viu o afundado no carro, ficou todo sem graça e acabaram se entendendo, pois já tinha voltado ao seu "normal".  
    Deve ter sido o caso de dupla personalidade mais contrastante que já vi!

(História de Claudio Henrique Couto do Carmo – 1976/77)


Capítulo 32

    Entrei na UFRRJ no ano de 2012, sou estudante de Letras no campus Nova Iguaçu, mas fiz minha matrícula no campus de Seropédica e é esse episódio que contarei aqui. 
Achei a faculdade linda quando cheguei, o prédio principal era encantador com aquele lago e aquelas árvores... toda aquela natureza me deu tranquilidade e a certeza de que tinha escolhido a faculdade certa. 
    Quando entrei no auditório para esperar chamarem meu nome para fazer minha matrícula, comecei a ficar um pouco nervosa com tanta gente e uma menina, que estava sentada ao meu lado, começou a me assustar contando os trotes que os veteranos faziam com os calouros (acho que muita coisa que ela me contou foi um exagero). 

    Depois de 4 horas sentada e ouvindo aquela menina, que até hoje não sei seu nome, só sei que ela era de Direito... enfim, me chamaram. Me levantei e ouvi as pessoas aplaudindo e de longe ouvi minha tia gritando lá de fora: 

"Carol! Minha sobrinha gente, olha lá!"

    Subi no palco e falei com a professora que eu era a menina que tinham chamado. 

    Ela disse: "Ok", e começou a procurar o papel com o meu nome e curso. 

Só que ela não achava! 

Comecei a me desesperar e dizer: "Não, tem que ta aí, eu passei, sou a próxima da Matrícula!".

    Ela começou a revirar a papelada da mesa dela, comecei a ajudar também e nada do bendito papel. Ela avisou ao professor que estava no microfone e os dois começaram, desesperados, a procurar pelo meu papel. Até que olhei para o chão e vi um papelzinho voando. Peguei e lá estava o meu nome. Gritei bem alto: "Aqui gente! Achei!". Entreguei para a professora e ela suspirou de alívio, me pediu mil desculpas. E, graças a Deus, consegui fazer minha matrícula. 

Hoje estou no segundo período de Letras e nunca me esqueço desse dia, um dia lindo e também cheio de emoções.

(História de Ana Carolina Machado – 2012)




Capítulo 31

    Eu namorava um menino na Rural, mas na verdade eu gostava de outro que tinha conhecido em uma fase de término desse meu namoro. Então esse que eu gostava tinha acabado de voltar de uma viagem e eu estava louca para vê-lo e ele ainda havia me mandado uma mensagem dizendo que tinha trazido um presente pra mim e queria me entregar, mas eu tinha medo de ser pega no flagra me encontrando com ele, então fiquei pensando em qual lugar seria impossível alguém da educação física me ver, busquei na minha mente um espaço onde não tínhamos aulas e nem fosse caminho para aula nenhuma. 

    Foi quando veio uma luz, pensei no P1 (Pavilhão Central), ainda melhor, pensei no terceiro andar do P1 que eu nem tinha certeza que existia pois nunca precisei passar por lá, o máximo que tinha feito era ter ido ao segundo para solicitar algum documento. Então mandei uma mensagem marcando o encontro e fui pra lá.

    Eu estava super feliz, ao lado de quem eu realmente amava e ao mesmo tempo me sentindo super segura naquele ambiente inatingível por algum futuro educador físico fofoqueiro. Depois de uns minutos de plena felicidade olho para um lado e vejo não apenas um menino na educação física, era ainda pior, era um menino da educação física e da minha turma. Fiquei desesperada e me escondi atrás da mureta e abaixei a cabeça por um tempo, até hoje não sei se ele me viu, mas se viu acho que nem era tão fofoqueiro assim.


    Lição que tirei disso tudo: Não há lugar seguro na Rural, sempre tem algum conhecido passando por algum pedacinho de lá.

(História de Milena Uchoa – 2005)



Capítulo 30

    Em 2007, no recém criado Instituto Multidisciplinar em Nova Iguaçu, existia uma disciplina obrigatória para os primeiros períodos chamada UCS (Universidade, Conhecimento e Sociedade), que entre os alunos era chamada de "quinta do futebol", pois os adeptos do esporte assinavam a lista (ou pediam para que alguém assinasse por ele) e ia jogar bola na quadra da escola em que provisoriamente estávamos instalados. 

    Eu era "bixo" (História 2007-2) e, apesar de não jogar, assinava ou pedia para assinarem meu nome e ia assistir a pelada. E assim decorreu o semestre, até que as notas finais foram fixadas em um quadro. Vejo o meu nome e 'tá' tudo certo. Vou checar o nome dos amigos quando me deparo com um surpresa: um deles tinha duas notas! Sua "presença" normal lhe garantira um A com seu nome completo, Guilherme Santos Cabral de Oliveira, e as assinaturas dos amigos lhe garantiram um B com seu apelido, Guilherme Zapata, com a mensagem ao lado: Favor regularizar matrícula. 

     Corri para contar a ele, que não sabia quem poderia ter assinado seu nome errado, mas nascia ali um aluno da Rural que não havia passado por exames de seleção: Guilherme Zapata, favor comparecer ao DEG para regularizar sua matrícula e existência!


(História de Adriano dos Santos Moraes – 2007)


Capítulo 29

    Quando fui aceito no alojamento, a maioria dos colegas era de Licenciatura em Ciências Agrícolas (Lica), da turma 73... (Orlando, Altamiro Baixinho, Macarrão e Renato). Eu, da Medicina Veterinária e mais três de Licenciatura em Biologia passamos a fazer parte do "seleto elenco". 

    Um dos "bichos" começou o curso com incríveis 15 anos. Como se pode imaginar, era inocente e inexperiente de tudo! Convivendo com um monte de "putas velhas", foi se tornando um grande de um gaiato. Na época, o filme "O Planeta dos Macacos" estava no auge e alguém achou que ele se parecia com um adolescente símio e, pronto, tornou-se o Gayle. 
    Um belo fim de tarde, estávamos todos no quarto, menos ele. Resolvemos sacaneá-lo e trancamos as portas, para que não entrasse. Daí a pouco, chegou, meteu a mão no trinco e nada. Foi para o outro lado e mesma coisa. Começou a gritar e a bater na porta, pedindo para entrar, pois queria tomar banho, antes do jantar. Começamos a rir, das risadas vieram as gargalhadas e ele ficando mais nervoso ainda. Deu a volta e pediu pela janela que abríssemos. Lógico que isso não rolou. Como nosso quarto ficava em frente ao banheiro do corredor, arrumou um saco plástico, enchia na pia e despejava por baixo das portas.
    Fez isso n vezes, até que percebêssemos que estava tudo alagado e nossos chinelos e tênis boiando. Abrimos a porta e corremos atrás do safado; que era quem ria agora. Levou tempo até secar tudo e o pior era que já tinha tacos soltos e podres...

(História de Claudio Henrique – 1976 )


Capítulo 28

Sempre fui viciada em gatos, especialmente quando precisam de ajuda. Então...


... estava eu entrando na biblioteca à noite, quando ouço um miadinho desesperado ao lado da porta. Parei, comecei a procurar e vi que vinha do canteiro do lado esquerdo, chamei, mas ele só miava. Resolvi procura-lo no canteiro. 
    Decidindo passar por cima da mureta, qual não foi a surpresa quando, ao invés de ter mato até o joelho como eu achava, caí direto e o mesmo ultrapassava a cabeça! 
    Nem havia passado pela minha cabeça entrar pelo outro lado ou ter notado a altura correta antes de resolver descer! Fiquei uns cinco minutos dividida entre chamar o gato e tentar sair dali, mas não encontrava nem o gato, nem um local de passagem sem rasgar metade da roupa nos espinhos. Pensei um pouco, engoli o orgulho e comecei a chamar por alguém que passasse pela entrada. Dois funcionários me ouviram e tiveram que me puxar pelos braços até a rampa de novo. 
    Terminei a história toda suja, com os braços doendo e encarando o infeliz do gato saindo do mato sozinho.

(História de Juliana  – 2012 )


Capítulo 27


    Vida de homossexuais nunca foi um "mar de rosas", muito menos onde impera o machismo e o preconceito. 
Em 1976 havia um alojamento no 1º andar do 6º masculino, quase em frente ao banheiro, habitado por 3 ou 4 gays. Salim (7603...) e eu (7606001) começamos a incentivá-los que desfilassem no corredor. Geraldo Cacique (7603...) e outros foram botando pilha e, quando vimos, já era quase metade do corredor gritando: "Desfile, desfile, desfile!!!". 
     A princípio, os gays se entusiasmaram e marcamos para a noite de uma 5ª feira (lembro-me bem, pois no mesmo dia, de tarde,tive aula de Química Fisiológica e encontramos cartazes anunciando o desfile até no banheiro feminino do PQ`). No dia "agendado", logo pela manhã, não se falava em outra coisa, no café, no bandeijão... à noite, depois de lanchar (eu não jantava), fui para o famoso e fatídico corredor do 6º. Os pretensos desfilantes estavam trancados no quarto, dizendo que não iriam desfilar, de jeito algum! Começamos a gritar e a bater na porta do quarto. Foi chegando gente, chegando gente, chegando gente e, quando nos demos conta, todo o corredor estava lotado, sobrando desocupados e curiosos até no corredor central dos alojamentos, quase entrando no 5º... 
     Era uma gritaria só, esculhambação p/ todo lado e o tumulto só aumentando! Daqui a pouco, anunciaram: "Vixe, lá vem o Aldacir (diretor da casa do estudante) e o porteiro (era plantão do careca, de bigodinho)!!!" Os dois se espremeram, chegaram até a porta do quarto- epicentro revolucionário, se identificaram (e quem disse que os de dentro acreditaram???) e mandaram que a galera dispersasse. Ainda teve um gaiato que deu um tapa na careca do porteiro ("Quem foi, quem foi??? Como filho feio não tem pai, é lógico que o autor da gracinha não apareceu, pois seria suspenso).
    Depois de muito tempo, Ricardo Nescau e o Murilo (Agronomia) conseguiram convencer os assustados e chorosos encurralados no quarto que sairiam a salvo da turba enlouquecida e os escoltaram até um carro, na frente da Caur, de onde foram p/ o 49. 
    Hoje, me arrependo profundamente de ter participado e incentivado um ato discriminatório desses, a troco, simplesmente, de gaiatice, pura falta do quê fazer e aproveito esse espaço público para pedir desculpas aos constrangidos! Eu era inconsequente e queria me divertir. O que não me dava conta era que meu direito ia (vai e irá) até onde começa o de meus semelhantes, independente de cor, credo, idade ou sexualidade. Se você estiver me lendo e tiver sido prejudicado por meus atos, peço sinceras desculpas!

(História de Claudio Henrique Couto do Carmo – 1976)


Capítulo 26


    Para uma aula prática de parasitologia (1979) o professor mandou que cada aluno levasse na aula seguinte duas baratas vivas para que as dissecássemos (anestesiadas com éter) e observássemos o funcionamento dos órgãos de um inseto vivo através de uma lente de aumento.
    Na véspera à noite, eu, Maria Helena Ralha, Domingos Smiderle, Marieni Cini e outros estávamos à caça das tais baratas quando alguém teve a ideia de abrirmos a lixeira de um alojamento masculino que com certeza as encontraríamos em quantidade, só que quando abrimos a lixeira, correu barata pra todo lado, e a gente, cada um com um potinho na mão, tentamos em vão pegá-las, e elas correndo pelo corredor central dos alojamentos.
    Nisso ia chegando um colega, o Didi, muito desligado, e a gente naquele frenesi gritamos pra ele pegar as baratas que iam em sua direção e ele, solícito... plec, plec, plec, pisou e matou todas as baratas!!! E todos nós, aos berros de desespero, quase o “matamos”, sem que alguém que passasse entendesse o que acontecia! 
    Tivemos que abrir outra lixeira e recomeçar todo o processo. Mas o problema não terminou aí. Levamos as nossas baratas para o alojamento (nós três morávamos no mesmo quarto- F1 24) e as outras colegas de quarto, da Engenharia Química entraram em desespero sabendo que haviam seis baratas no quarto, mesmo que presas dentro de uma lata com tampa furadinha para ventilação das cobaias. O barulho que as baratas faziam andando na lata no silêncio da noite não deixava as meninas dormirem e, desesperadas que estavam, tivemos que tirar as cucarachas do quarto e malocá-las no banheiro coletivo, mas com medo de alguém descobrir e fazer um escândalo na madrugada. 
    Deu tudo certo e fomos para a aula e observamos, maravilhadas, os brilhantes Túbulos de Malpighi funcionando!!! Quem é da área deve lembrar!

(História de Rozana Rodrigues Perricone - 1979)


Capítulo 25


    A década de 1970 ficou marcada pela intensa repressão na sociedade brasileira e que repercutia nas famílias. Muitos dos alunos da Rural eram originários desse extrato. Assim que se viam na universidade, sem pais e outras figuras controladoras, davam expansão àquilo que (muitos) sempre gostariam de ter sido: expansivos, brincalhões, gaiatos etc. 
    Eu fui um desses. Perceber que eu teria gestão sobre minha vida, de segunda-feira à sexta-feira (eu sempre voltava ao Rio, nos finais de semana) foi algo fantástico; assim como diversos colegas experimentaram! Ali, qualquer um faria o que quisesse. Na "Praça da Alegria", em frente à sala de estudos, o samba rolava quase todas as noites (lembram-se Ernesto, Nescau e Candinho???Malandro,/ eu ando querendo falar com você/que na passarela foi porta estandarte/ e lá na favela tem nome de flor.../"); quem adorasse um baralho, tinha parceiros todas as noites; quem fosse do goró, rapidinho tava enturmado e com diversidade: cerveja, vinho, cachaça etc.; a galera do bagulho também.
    Era facílima de acessar; quem só curtisse estudos, a Biblioteca, sala dos alojamentos e, mesmo a "zoadenta" Sala de Estudos (nessa, nunca consegui me concentrar para aprender fosse o que fosse, tamanha a faladeira alta) estavam à disposição.
    ResumindoA Rural oferecia oportunidades de que, cada um de nós, saísse com dois diplomas: um do curso no qual se matriculava e outro de VIDA!

(História de Claudio Henrique Couto do Carmo – 1980)


Capítulo 24

    Entrei na Rural em 2008-2 para fazer zootecnia.   
    Fazia aula de estatística básica no PQ’ na sala vermelha, a professora era péssima e ninguém gostava da aula, a turma era grande, além de nós, "bixos", tinha a galera que já estava fazendo a matéria pela segunda, terceira vez... 
    Então, no dia da segunda prova a sala lotada, todos devidamente distribuídos pela sala, me sentei nas cadeira mais em cima, comecei a prova sabendo que precisava de uma nota boa para passar, tentei tudo que pude e resolvi entregar a prova já que não sabia mais nada. 
    Então levantei e fui descer a escada, não sei como, não sei se tropecei ou qualquer coisa do tipo, só sei que desci a escadaria rolando. Quando parei, lá embaixo, olhei e vi todos olhando pra mim e me perguntando se eu estava bem, até porque o tombo tinha sido feio. 
    Peguei minha prova toda amassada e levantei, minha calça estava toda vermelha devido ao chão da sala, morrendo de vergonha entreguei a prova pra professora, que só disse: “Você está bem, minha filha?”, balancei a cabeça dizendo que sim e saí o mais rápido que pude da sala.
    Quando coloquei o pé fora da sala escutei toda a turma rindo muito da situação. Até hoje todos meus amigos brincam, relembram esse dia e contam para os "bixos", netos e etc. Com certeza uma das lembranças mais engraçadas do meu primeiro período!

(História de Laís Andrade - 2008)


Capítulo 23

    J. era um rapaz muito simples, de origem agrária e humilde, da região norte de MG. Negro, sempre de cabelos curtos, corpo moldado pela enxada, lembrava bastante o Neguinho da Beija Flor, principalmente quando sorria. Entrou para a Rural no 2º semestre de 1978 e foi morar no alojamento 217. Sendo de ascendência interiorana, natural que fosse muito machista.
    Mais ou menos na metade de 1980, começou a frequentar um grupo negro e sectário que se formou na CAUR e, de repente, começou a mudar radicalmente seu temperamento calmo e caladão. 
    As meninas de sua turma começaram a ficar com medo dele, pois ficava um tempão encarando-as, em silêncio. Num belo dia, apareceu de brinquinho de pedra azul. A galera começou a encarnar, pois sabiam bem que ele sempre fazia o tipo machão. 
    Ah, pra quê?!? Puxou de um revólver e encostou-o no peito de F., seu colega de quarto e de curso. A notícia correu do jeito de rastilho de pólvora: rápida e foi longe! Muitos tentaram dialogar com ele, que, revoltado, não aceitava papo com ninguém e mostrava logo o 38! Quando viram que não iria adiantar, chamaram o irmão dele, que não conseguiu desarmá-lo. O único que conseguiu a proeza foi o Prof. Jadyr Vogel, decano de assuntos estudantis, depois de muita conversa atrás da porta do alojamento (quem iria encarar o pau de fogo???). Susto generalizado nos alojamentos! 
    Depois disso, foi diagnosticado como doente mental e acabou deixando a universidade (Lamentavelmente, uns 15 anos depois, foi visto como mendigo, na rodoviária de Niterói; já tendo morado no baixo meretrício daquela cidade). 
    Que Deus se apiede de sua alma!

(História de Claudio Henrique Couto do Carmo - 1980)


Capítulo 22

    Era junho de 1978 e a turma de Engenharia Florestal de 75 resolveu montar uma barraca para arrecadar grana para a formatura. 
    Eu era aluna da turma 76 e namorava um aluno de 75, resolvi ajudar e fiquei na festa até quase o final. Eu morava no alojamento F3 e fui pro quarto com algumas meninas que estavam comigo, também da minha turma que moravam no mesmo quarto.
    Quando já estávamos todas deitadas, ouvimos um grito -"Tem um homem no alojamento! Socorro!"
    Dei um salto da cama, peguei uma vassoura e saí pelo corredor a procura do tarado,como se eu fosse resolver alguma coisa com o cabo de vassoura.
    O cara havia entrado pela janela e tentou agarrar uma menina do quarto em frente ao meu. 
    Até hoje não sei quem foi a menina que gritou. Sei que a guarda correu, mas também não sei se pegaram. Lógico que não consegui bater em ninguém, mas daquele dia em diante, foram colocadas grades nas janelas dos alojamentos.

(História de Regina Coeli Maeda - 1976)


Capítulo 21


    Quando entrei para a Rural, hospedagem era coisa problemática. 
    Levei quase um mês para conseguir me acochambrar, até que fosse oficialmente aceito no 213. Não tendo onde ficar, ia quase todos os dias para Itacuruçá e voltava para o campus na manhã seguinte. 
    Era uma grana braba de gasolina, fora o cansaço e a preocupação de não perder hora de aulas. Conheci uma menina muito bonita e meiga do recém criado curso de Educação Física e fui me empolgando com a perspectiva de convidá-la a passar a noite lá na praia, onde ia para o pernoite. Fiz o convite e pensem na decepção, quando ela alegou que não poderia, "porque o namorado...". 
    Muito chateado, lá fui eu pegar a estrada, mais invocado que siri na lata. 
    À noite, chegaram meus pais, com lanche e livros. Imaginem minha cara, se estivesse à vontade com a tal morena...

(História de Claudio Henrique - 1976)


Capítulo 20



    Um evento muito importante que participei na Rural foi " A I Semana Viver Melhor", no ICHS em 1986, marcou minha vida de tal forma, que mudou completamente a minha trajetória profissional. Sou muito grata às pessoas que organizarão este evento e a todas as pessoas que como eu foram participantes(amigos).
    Na época eu curva Zootecnia estava no segundo período. Participei em todas as vivências que podia e confesso, matei aula para ir a outras (não podia deixar passar). Depois de algum tempo, entrei em crise com o curso que eu estava fazendo e resolvi trancar minha matrícula. Fui procurar emprego, mas sempre pensando em voltar para Rural para estudar Biologia que era o curso que tinha mais a haver com meus princípios e dons e me estimulava ao conhecimento que buscava.
    Quando retornei à Rural para estudar Biologia, conheci algumas pessoas que foram literalmente fundamentais na minha busca e, com elas, ampliei mais meu campo de conhecimento.O primeiro foi o Curso de Técnicas de Teatro e Dança Livre , com o professor Nogueira. No ano seguinte participei de um grupo que estava se encontrando para algumas vivências de técnicas de movimentos Corporais. O primeiro foi o curso "Ecologia do Corpo ", do aluno Saulo (Educação Física), o segundo foi o Grupo de Shiatsu com o aluno Augusto Marcos Cajú. Daí pra frente a minha passagem pelo ICHS sempre acontecia em eventos semelhantes da Semana Viver Melhor.
    Hoje sou Terapeuta Holístico , trabalho na minha cidade em São João de Meriti ,RJ. Amo meu trabalho e, por isso, sou muito grata à Rural, a semente foi despertada lá.

(História de Márcia Cristina de Souza - 1986)


Capítulo 19


    Este fato vem do final de 1979, quando os docentes, que deveriam entregar todos os conceitos para aqueles que iriam se formar, colassem grau na festa de formatura deste mesmo ano. Como aluno de geologia em vésperas de me formar, procurei alguns concursos para fazer em empresas do governo, como Petrobrás e Nuclebrás.
    Durante o mês de dezembro os professores da Universidade Rural entraram em greve e eu tinha acabado de prestar concurso para a Petrobrás sendo aprovado. Eu teria que apresentar toda a documentação necessária, inclusive meu histórico escolar e o diploma ou outro documento que comprovasse a finalização do curso até final de janeiro de 1980.
    Chegado o dia da formatura, uma grande festa foi programada para o Ginásio de esportes. Os formandos ficaram em um lado das arquibancadas e todos os familiares e convidados ficaram na quadra em cadeiras enfileiradas. Todos nós colocamos a beca e aguardamos o pronunciamento do Reitor, que diria quem estaria se formando, já que alguns conceitos ainda não tinham sido entregues.
    Depois de “vaselinar” bastante todos os formandos e convidados, ele acabou tendo que citar em quais os cursos seus alunos não estariam se formando naquele dia. Logicamente os alunos da geologia ficaram sem a graduação e eu fiquei tão revoltado com a situação que imediatamente me despi da beca e pisei em cima da mesma.
    Meus familiares quando viram minha atitude ficaram atordoados e por gestos e sinais pediam para que eu não fizesse aquilo. Quando me voltei para as escadas da arquibancada para me retirar da “palhaçada” que se tornou aquela festa, pude constatar que todos os outros formandos tomaram a mesma atitude. Foi um ato de protesto espontâneo que, mais tarde, pude saber de todos que tinha sido copiado.
    Felizmente alguns dias depois, os conceitos foram entregues e pudemos colar grau na segunda quinzena de janeiro de 1980.

(História de Reinaldo Pellegrino - 1979)


Capítulo 18

    Era uma manhã de Segunda-feira, acho. 
    Meu primeiro contato com a Rural, com uma Universidade de verdade. Ao redor meus novos colegas de classe: Engenharia Florestal, primeira turma ' recheada' depois da abertura do vestibular que preencheu as vagas que antes deixavam os cursos vazios. 
    Na Floresta agora tínhamos 30! Desses não imaginava que seriam alguns os melhores companheiros que já tive na minha vida! São laços de amizade que duram até hoje e naquela manhã a sensação de ter realizado um sonho era fantástica. Não imaginava o que teria pela frente, mas uma coisa tinha certeza, ali era minha segunda casa e foi nesta casa que voltei muitas vezes depois de egresso, que busquei ajuda quando estava desempregado e foi nela que consegui trilhar o caminho até me tornar o profissional que sou hoje e isso devo a Ela, aos meus companheiros de classe, Floresta 1991-I e aos Mestres queridos!

Valeu Velha Escola da Vida!

(História de Marcelo Brandão José - 1991)



Capítulo 17

    Fiz inscrição para o vestibular de Educação Técnica, hoje Licenciatura em Ciências Agrícolas. Quando me apresentei, estava selecionado para o Curso de Agronomia (4° lugar) mas insisti e cursei mesmo Licenciatura. Meu apelido na Rural era "Gaúcho" e tive muitos amigos, de 1969 a 1972.
    Depois das férias de julho de 1969, me apresentei para o primeiro ensaio do Coral da UFRRJ. Como tanto eu quanto Nanci estávamos sem namorado(a), nossos colegas armaram para que nos encontrássemos. Foi na Patióba que comecei um relacionamento com minha atual esposa, companheira, amiga de todos os dias, mulher carioca que carrega meu sobrenome e me deu três filhos, que evoluíram para 04 netos. Nanci de Azevedo Figueiredo é carioca da gema mas há quase 35 anos vive comigo no Rio Grande, RS, depois de termos passado uma temporada em São Paulo (Iguape, em 1973/74 e Jaboticabal, até 1979).

1. Nosso curso era conhecido como LICA. Fui eleito presidente do diretório numa disputa acirrada, mas ganhei a eleição e fui re-eleito por dois mandatos. No Diretório acadêmico fizemos grandes realizações na época, inclusive a montagem de um escritório com 04 máquinas elétricas conseguidas de doações na cidade do Rio de Janeiro.
2. Nossa formatura foi no Teatro Municipal do Rio de Janeiro e foi o primeiro ano em que todos os cursos da Rural realizaram a formatura juntos.
3. Para a formatura, fui escolhido orador de todos os formandos, de todos os cursos. O discurso foi escrito com a contribuição de colegas formandos de todos os cursos.
4. Como no discurso foram criticados alguns métodos de ensino adotados na Rural, tive problemas depois da formatura e não me foi permitido continuar meus estudos na Rural, onde eu já havia sido convidado para fazer Pós-Graduação em Solos.
5. Fui monitor de Química, vaga conquistada por concurso, a partir do 2° ano de faculdade.

Fiz mestrado em Produção Animal na UNESP, Jaboticabal, SP, em 1983, e Doutorado em Zootecnia, na UFV, MG, em 1996.
Hoje sou professor da Universidade Federal do Rio Grande e trabalho com aquicultura continental.
Fui presidente da comissão que criou o Programa de Pós-Graduação em Aquicultura, em 2001, e seu primeiro coordenador. Meus colegas me reconduziram à coordenação por três mandatos (2 anos cada) mas hoje estou limitado às atribuições de um professor do quadro permanente.
Nosso Programa oferece cursos de Mestrado e de Doutorado, este a partir de 2007.
NÃO EXISTE CAMPUS MAIS BONITO DO QUE O DA RURAL! Tenho orgulho de ter meu nome numa daquelas placas, no corredor do pavilhão central.

(História de Mario Roberto Chim Figueiredo - 1969)


Capítulo 16

    Certo dia estava na Rural, na praça da alegria, quando soube que iria ser deflagrado um Ato Público em frente ao ICHS pela educação. Pela Greve dos professores. Um dia antes havia comparecido a faculdade também e as pessoas, junto comigo estavam comentando sobre o movimento. Para alguns, era tanto interessante como também um ato "Impensado". Só sei que naquele momento, percebi a Rural como nunca vi antes: Isolada, vazia, sem a alegria dos estudantes. Apenas uma palavra resumia aquele momento: O Silêncio.
    No dia da luta ocupamos a BR 465 e resistimos à truculência policial. Pintamos uma faixa de pedestre, pois todo ano havia forte índices de atropelamento por lá. Naquele dia percebi o quanto os ruralinos tinham a capacidade de lutar pelos seus direitos e não apenas se entregar aos estudos e às festas. Não há como ensinar cidadania sem ser um cidadão.

(História de Carlos Mizael  - 2012)


Capítulo 15 - A história do "bixo" voador


    Cursava o segundo ano e morava no alojamento. 
    O nosso alojamento tinha uma certa fama de ser violento com os bixos na época. Cheguei com um certo receio mas vi que na verdade era uma grande família. Talvez possa ter ocorrido casos de violência antes de eu entrar.
    Bom... vamos ao caso:
    - Entraram no alojamento dois irmãos (bixo é claro). Passaram pelo ritual clássico de perder o cabelo e tal... tudo tranquilo, levaram na brincadeira.
    Começaram por aí a falar com eles que estavam em perigo lá... e que iríamos "barbarizar" com eles.
O síndico do andar estava viajando e como era uma figura muito emblemática e cheia de estórias (contada por todos)... acho que os dois imaginavam que depois que chegasse o síndico que iriam ter "os problemas".
    Era junho e encontrei com os dois numa festa junina. Troquei uma idéia com eles: - E aí? Tudo tranquilo? Já pegaram mulher aí? rsss... clássico né? E deixei os dois lá...
    Acordei no outro dia (um sábado) tarde e acabei perdendo o bandeijão. Fui a um quarto de um amigo e entrei sem bater como era de costume, vi um dos irmãos e mais dois amigos e perguntei: Qual é bixão? Se deu bem ontem? (mulheres é claro). Ele virou pra mim assustado e disse: O que vocês vão fazer comigo? Quando digo assustado entendam transtornado, com os olhos arregalados e com as veias saltadas. Ele era um negro muito forte, lutador de jiu jitsu.
    Respondi: 
    - Que isso? Fica tranquilo! Já perdeu o cabelo e já é de casa.
    Ele: 
    - Mas todo mundo fala mal daqui.
    - Falam mal porque não conhecem... não ve como somos amigos? E o andar é uma comunidade?
    Aí entrou um outro amigo e não percebendo o estado do bixo disse:
    - Relaxa bixão, aqui a gente só arranca os dedos com alicate.
    O bixo então falou: 
    - Eu não sou assim não, eu sou um anjo.
     Ele subiu na janela do 3º andar e mergulhou lá em baixo. Olhei lá pra baixo e vi o cara estendido.    Pensei: Fudeu!
     Saímos gritando: 
     - O bixo pulou... o bixo pulou! E dei de cara com o irmão dele, - Seu irmão pulou! Ele deu risada... eu falei que era sério, ele disse:
     - Mas ele não é doido não.
     Chegamos lá em baixo... quem foi o primeiro a chegar e colocar a mão nele? O síndico. O bixo deu um pulo se levantando e querendo brigar, mas sem as mínimas condições... foi embora todo mancando. chegou no ambulatório e quis quebrar tudo por lá... enfim pirou.
     O DCE queria processar a gente mas o próprio bixo falou que não tinha motivo. A família veio falar comigo e expliquei tudo que vi. Mas antes de eu chegar no quarto rolou o seguinte:
     O bixo tinha almoçado normalmente com a galera e vendo Jornal Hoje e durante uma propaganda, ele falou que um anjo falou com ele. Tinha uma faca em cima da mesa que o bixo olhava... e olhava pra um amigo, olhava a faca... e olhava o outro... daí eu cheguei.
     Ele foi transferido para outra Universidade, mas o irmão dele continuou no alojamento até se formar. É grande amigo meu e ficou sendo chamado pelo apelido do irmão " Bixo Voador", ele deixou de ser bixo mas se formou conhecido como Voador.
Um abraço para todos.

(História de Marco - 2001)


Capítulo 14


    Morava no antigo porão do F4, atualmente depósito da instituição, no meu quarto eram três meninas e duas crianças e, no quarto ao lado, duas meninas e outras duas crianças que, à medida que os anos passavam, se formaram e ficamos eu e uma amiga apenas. 
    Nessa época, a Rural iniciou a campanha de dedetização dos prédios, de um alojamento ao outro, de modo que os técnicos avisavam o dia e faziam a pulverização. 
    Enfim, como morava no porão, ao começar o processo chovia baratas dos quartos de cima e era hilário o quanto as meninas gritavam escandalosamente e pulavam alucinadas!!! 
    Era divertido morar no porãozinho, além de calmo era muito fresco no verão e, pela manhã, os pássaros pousavam nas árvores cantando.

Momentos inesquecíveis!

(História de Lia - 2004)


Capítulo 13


    Houve uma paralisação na Rural.
    E, eu, juntamente com Antonio Pinto de Souza (paraense), Manoel Epifânio de Assis (pernambucano), entre outros, permanecemos no alojamento. 
    Como não tínhamos o que comer, fomos para o pomar de mangas e, durante uma semana, comemos muuiita manga!

(História de Mario Roberto Chim Figueiredo - de 1970)


Capítulo 12


    Logo no ano que ingressei na Universidade, eu e uma amiga de quarto da Educação Física, bicho também, fomos convidadas por uns veteranos da Agronomia para uma festa no km 49. Sabe como é estudante, pouco dinheiro... e lá, na casa destes veteranos, havia vinho Sangue de Boi que era um galão barato.
    A festa foi legal, mas o vinho "pegou" e quando voltei para o alojamento, estava tonta e querendo dormir, mas as outras colegas de quarto estavam dormindo e não podia fazer barulho, pois podia acordá-las. Então entramos no quarto pé ante pé sem fazer barulho, não podia acender a luz, a minha cama era a do canto perto da janela e a da minha colega, que estava comigo, era logo perto da porta.
    Não acendemos a luz do corredor de entrada para também não acordar ninguém do outro lado. Entrei no quarto e calculei errado, me joguei literalmente na cama (pensando que era a cama), mas acabei me jogando no espaço entre uma cama e outra e com a cabeça dentro da mesinha que existia entre as camas. Foi o maior barulhão!!

    Todo mundo do quarto acordou as gargalhadas: "- O quê que é isto??" kkkkkkkkk, mas logo voltaram a dormir e eu fiquei com aquela cara de paisagem. Acabei indo respirar na janela da sala de estudos do quarto, ainda estava tonta do vinho. Era bem tarde e na penumbra do quarto não tinha visto um prato na janela com uma simpatia para Santo Antônio com vários papéizinhos dobrados, em que, diz a lenda, que o papel que abrir com o nome de um rapaz, será ele com quem casará. Quando respirei fundo, não vi os tais papéis e, ao soprar, eles voaram pela janela e caíram na grama do lado de fora.


    No dia seguinte, a colega que havia feito a tal simpatia, perguntou a todas as moradoras daquele apartamento se alguém sabia ou tinha visto. Eu não tinha idéia que havia a tal simpatia e sem saber, dei uma zoada nela: "- Acho que Santo Antônio foi tomar um vinhozinho e já volta!" Nenhum papel abriu, mesmo na grama do lado de fora. Somente a colega, que havia ido a festa comigo, sabia. E até hoje a gente morre de rir desta história!

(História de Aurea Regina de Abreu Rosas - aluna de licenciatura em Educação Física - 1979)


Capítulo 11

   O ano era 1980, ao final da ditadura militar, presidia a comissão ecológica da Rural.
    Nesta época, junto com outros colegas estudantes, tivemos a ideia de plantar mudas de árvores no campus universitário. 
     Depois de trinta anos voltei a Rural e me emocionei ao ver as árvores grandes no IV e perto do alojamento feminino... 
... quantos alunos passaram pela a UFRuRJ e puderam usufruir de uma sombra de pau-brasil!!! 

(História de Marcio M. Folly - 1980)





Capítulo 10


Fomos à uma festa no 49.
     Durante o tempo que ficamos, bebemos todas e voltamos a pé para o alojamento, fomos para o quarto e dormimos.
    Quando amanhecemos vimos que a nossa roupa estava molhada, e pior de tudo não tinha chovido.
    Então, sentamos e fomos analisar o porquê.
Chegamos a conclusão que tínhamos atravessado o lago...


O que a maldita não faz?!

(História de Nehemias, Maranhão  - 1971, fato ocorrido em 1973)


Capítulo 9


    Nessa época eu era estudante de zootecnia e morava em uma república em Seropédica, junto com outros colegas do curso (éramos 6 pessoas). A casa ficava no alto de um morro, (próximo a rua dois Irmãos) era uma vila onde moravam outros estudantes também. Na casa da frente tinha uma escada de acesso a laje, e lá no final da tarde ficávamos conversando contemplando o visual do lugar, era muito bonito, dali avistávamos uma fazenda que ficava do outro lado da pista, uma planície verde.
    Numa tarde de outono, voltávamos da aula - por volta das 17 horas, mais ou menos - estávamos sentados na frente da casa comendo o lanche da tarde (todo mundo tava de cara limpa) apenas observando o por do sol (como já disse, e quem conhece Seropédica sabe que é realmente lindo) estávamos conversando assuntos corriqueiros. 
    De repente algo nos chamou a atenção. 
    Um som muito esquisito e bem alto, algo que nunca havia ouvido antes, e curiosamente fomos para um local de frente da casa onde avistávamos a tal fazenda e, para a nossa surpresa, vimos um avião caça sobrevoando a fazenda e fazendo manobras, ao seu lado um objeto voador não identificado, que também parecia perseguir o avião ou o contrário; isso porque o tal objeto aparecia e sumia em vários pontos ao redor do avião, como se estivessem vivenciando algum tipo de jogo. 
    O mais interessante é que nós olhávamos um para o outro e tentávamos entender o que estava acontecendo, não sabíamos do que se tratava, esse objeto não tinha uma forma definida e era muito luminoso, emitia esse som que falei e fez várias manobras muito atípicas ao redor do avião. 
    No dia seguinte tivemos aula de meteorologia com o Professor Foca e perguntamos a ele se havia algum fenômeno Meteorológico que se parecia com o que vimos, ele nos esclareceu que não sabia do que se tratava. 
    Durante esses anos todos, nunca mais falamos sobre o ocorrido. Há dois anos,encontrei no You Tube uma reportagem que fora feita pela rede globo no Fantástico, na mesma época do ocorrido, sobre várias aparições de ovnis na zona oeste do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.
    Daí eu finalmente concluí que o que nós vimos era realmente um ovni e desses amigos que estavam comigo, alguns ainda mantenho contato pelo Facebook, um deles relembrou sobre esse dia. Nunca mais esqueci e, inclusive, hoje participo de grupos que pesquisam sobre ufologia.

(História de Marcia Cristina de Souza - 1986)


Capítulo 8

    Nós estudávamos Anatomia Comparada dos Animais Domésticos no livro de Sisson traduzido para o espanhol e, por isso, usávamos muitos termos que constavam no livro. 
    Em uma ocasião, estávamos em plena aula de Anatomia na Escola de Veterinária quando perguntei ao grandioso professor Alzido se o agujero que eu estava apreciando no esqueleto do cavalo era um foramen. Então, ele com seu ar magistral respondeu-me: 
    - Não é um agujero nem um foramen, é o buraco do arame (arame que prendia as estruturas do esqueleto). 

    A risada foi geral, até ele deu uma risadinha comedida.

(História de Sheila Regina Andrade Ferreira - 1977)


Capítulo 7 


    Morava no F3 com meninas da minha turma de Educação Física e Biologia e, às vezes, saíamos de madrugada pra jogar “bomba relógio” (cabeção de nego na ponta de um cigarro) no alojamento masculino. Mas tinha um vigia doido pra pegar a gente e não conseguia.
    Bom, um final de semana das férias eu estava na varanda da minha casa, no subúrbio do RJ, em frente tinha um botequim, em que meu irmão estava tomando cerveja, de repente meu irmão me chama e fala assim:
     - Você conhece ele? Era o vigia da Rural, que tinha parentes na minha rua, sem saída dei um abraço no vigia e falei “que saudades seu guarda” aí meu irmão falou que quando ele me viu, sem saber que ele era meu irmão, falou assim:
     - Aquela FDP vive soltando bomba na rural, eu ainda pego ela.
    Resumindo, fiquei seis meses como responsável por lavar os tênis do meu irmão pra ele não contar nada pra minha mãe!

(História de Noemi Pereira - 1987)


Capítulo 6 - Do que experimentamos nesta caminhada


UFRRJ, 19 de Fevereiro de 1997, à tarde. 

    Experimentei hoje um momento muito interessante da minha curta existência. Marcou-me por sua originalidade, pelo ineditismo com que fui apresentado a mais uma das incríveis facetas do viver. Hoje, por alguns instantes, por alguns metros, experimentei, e pela primeira vez, a real e incômoda sensação de estar sozinho no mundo. Acompanhada esta de uma terrível sensação de vazio existencial. Sozinho e esvaziado.
    Caminhava pela UFFRJ, do Prédio principal (P1) para o Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS); lia a cobertura jornalística do falecimento de Darci Ribeiro. Concentrado na leitura, segui meu caminho a passos muito lentos, bem calmos, enquanto era conduzido, pelo autor, pelos diversos momentos da vida e trajetória de uma das personagens mais brilhantes e marcantes da nossa história. Quando comecei havia sol, não ventava. Embora fosse à tarde, fevereiro, havia muita gente transitando pela Rural.
    A notícia da morte já me causara um grande vazio. É muito ruim vivenciar perdas, e estas tomam contornos diferenciados quando se trata de pessoas cujos pensamentos, valores, envergadura moral e qualidade do trabalho as tornem imprescindíveis para a formação da nossa imagem de cidadão, da maneira como nos vemos e nos definimos como povo, nação. Embora conhecida a gravidade da doença, Darci Ribeiro desapareceu, simplesmente desapareceu. Fica a obra. O conteúdo da reportagem fez aumentar essas incômodas sensações; as palavras sensibilizavam, emocionavam, e, ainda que limitadas a um jornal, foram certeiras ao aludir a vida e obra de Darci Ribeiro.

Darcy Ribeiro 
    
    Quando lia uma das últimas frases, onde Darci Ribeiro explicava ao médico porque sairia da UTI, abandonaria o tratamento e iria para casa, acontece o que marcaria para sempre este dia. Parei e comecei a refletir sobre o significado da sua explicação, sobre aquela contundente reafirmação da sua vontade de viver, ainda que implicasse a saída do hospital. Ele, paciente terminal, sai do quarto e vai pra vida; troca a paisagem da dor, pelo cenário da vida, ao lado dos seus e dos elementos que melhor definem o indivíduo que ele encerrou. Uma forte demonstração de amor a vida.
    Fechei o jornal, levantei a cabeça e olhei para os lados. Pela primeira vez, aqui na UFRRJ, não encontrei ninguém. Ninguém ia ou vinha pelo caminho entre o P1 e o ICHS; ninguém vinha ou ia pelo caminho entre os alojamentos e o ponto do Colégio Presidente Dutra. Não notei qualquer pessoa que tenha passado por mim. Nada de carros, motos ou bicicletas. O tempo tinha ficado nublado, ventava muito; chuva forte a caminho. Demorou uns minutos até que alguém aparecesse. Retomei minha caminhada.
     A caminhada, normalmente rápida, estendeu-se por quase 40 minutos. Eu estava sozinho, momentaneamente esvaziado do lúdico e do lírico que tão nobremente alimentam essa nossa breve caminhada pela vida e que sempre nos chegam por meio dos sonhos, apostas e obras dessas pessoas que são imprescindíveis.

(História de Marco Bauhaus - Servidor - 1997)


Capítulo 5

    A turma de Engenharia Química tinha dois professores que eram irmãos e professores de química. Injusta e curiosamente, não me lembro do nome completo dos dois. Um se chamava Arnaldo. Um tinha olhos castanhos e o outro tinha olhos verdes. Os dois eram de Minas Gerais, como eu, e eram extremamente educados e atenciosos, mas o que mais chamava a atenção dos alunos era uma particularidade física de cada um. 
    Um piscava muito e tornou-se "O Pisca". O outro fungava (o que nunca percebi) e tornou-se "O Funga". Alguma coisa aproximou-me dos dois e eu gostava muito de conversar com eles. Uma ou duas vezes cheguei a pegar uma carona com os dois para a minha cidade em Minas, muito perto da cidade onde moravam. Em alguma destas conversas descobri que o Funga, como eu, gostava de artes e desenhos e combinamos de mostrar um ao outro nossos desenhos. 
    Algum tempo depois, ao término de uma das aulas, mostrei a ele meus melhores desenhos: alguns croquis, um retrato do meu pai, cópias de croquis do Leonardo da Vinci, alguns esboços de nu feminino e alguns desenhos bem comerciais, nada que eu hoje dê valor além do fato de ter sido feito por mim, e o Funga me mostrou os desenhos dele; todos maravilhosos, criações deslumbrantes de anjos em grutas e muitos, muitos cavalos, em trote, em galope, em salto, de todas as formas deslumbrantes que os cavalos podem ser vistos. 
    Ele me disse que gostava de observar os cavalos horas a fio e desenhá-los. Ao ver meu deslumbramento, ele me deu de presente dois desenhos, um anjo em uma gruta e um cavalo no galope. Quase não pude acreditar que eu havia ganhado aquelas maravilhas. Por anos a fio, guardei os desenhos comigo com o maior cuidado, evitando que se desgastassem com a luz ou com o excesso de manuseio. 
    Um dia resolvi enquadrá-los e pendurá-los e quis o destino que acontecesse o pior. O “profissional” que montou o quadro do anjo usou uma fita para prender o desenho na moldura e o contorno ficou “franzido”. Se eu tirasse a fita, rasgaria o quadro e assim ficou como estava. Além disso, o desenho foi feito em papel de rascunho e com caneta hidrocor, de forma que, com o tempo, está se tornando cada vez mais claro. Já o desenho do cavalo continua como estava, fora da moldura. 
    Recentemente conheci um profissional do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, e quero ver com ele o que pode ser feito para recuperar o desenho.
    O quadro continua em minha casa, pendurado para que eu o veja sempre e me lembre com muita saudade dos dois amigos que eu nunca mais vi. E é com muita admiração que eu me lembro daquele professor meio calado, meio tímido, mas com uma sensibilidade e um talento enorme, que mereciam ser divididos com o público, para o merecido reconhecimento deste dom divino da arte que ele soube aproveitar tão bem.

(História de Thaís Reis Machado - 1971)


Capítulo 4


    Uma vez eu estava muito atrasado para uma aula que teria no Pavilhão Central e não poderia perder aquela aula, pois era a última aula de cálculo que teríamos antes da prova e, verdade seja dita, cálculo é o terror.
    Então, eu sai feito um doente correndo pela ciclovia a fora desde o km 50. 
    Todo mundo que passava e via aquela figura esquisita toda desengonçada tentando segurar as calças que estavam largas e as bolsas ao mesmo tempo, já que em uma bolsa transpassada estava o meu notebook e eu não poderia nem cogitar a hipótese de deixá-lo cair porque meu velho não iria me dar outro. 

    Por fim consegui chegar ao IB. Porém, tarde de mais para me afogar no lago... eu avistei ao longe, vindo em minha direção, algumas pessoas da minha turma.
    E, quando eu já estava passando mal com falta de ar, meu amigo de laboratório, parceirão mesmo, me disse que eu poderia voltar de onde estava, então acrescentou:
    - Cara, você tem muita sorte. Acredita que você ia perder a correção das integrais? Mas parece que nem vai ter prova, não tem sala nem ninguém para aplicar a prova. Além disso, o filho do professor está doente, que pena né? Mas que bom para gente, tem festa hoje, vamos? 
     Eu quis morrer de raiva naquele dia, mas jamais vou esquecer.

(História de um aluno de 1992)


Capítulo 3

    Recém chegados à Rural em 1974, e sem chance de morar no alojamento, fomos parar num sítio de um português no km 51 por indicação de outros "bichos" na mesma situação. O local fazia vizinhança com o Parque Mario Xavier e lá havia um galpão reformado com dez quitinetes para até 4 pessoas. Éramos, inicialmente, 25 alunos (veterinária, agronomia, geologia, economia, florestal e engenharia química) vivendo num paraíso cercado de árvores frutíferas e uma criação de galos de briga. 
      O zelador do sítio era o Chico, um cearense arretado que morava com a família numa casinha nos fundos, que passava o tempo vigiando pra turma não colher frutas no terreiro. Dentre tantas estórias deste sítio, destaco a do "milagre da sementeira". 
    Um colega da Floresta, carioca do subúrbio, sujeito alto, forte e que parecia ter mais idade que a maioria de nós. Muito galante, vivia contando "causos" onde, invariavelmente, se dava bem em todas as paradas, tanto nas brigas quanto nas conquistas amorosas. Desfilava no sítio com um facão de estimação embainhado na cintura. Um bufão florestal! 
    Eis que ele preparou, com toda dedicação, um experimento de semeadura em bandejas. Selecionou e peneirou o substrato, escolheu as melhores sementes e fez o plantio conforme as normas. Deixava-as perfiladas sobre o muro da varanda da única entrada do galpão. Passava os dias regando e trocando a posição das bandejas para captar a luz certa e assim obter os melhores resultados. Tratava como se fosse um filho que iria nascer a qualquer momento. 
    Os dias se passavam e nada de brotar sequer um caulezinho verde. Vez por outra, nosso colega viajava ao Rio para passar a noite com uma de suas namoradas, só voltando ao sítio ao amanhecer. Num desses retornos, surpreendeu-se com suas bandejas cheiinhas de laranjas, limões, tangerinas, mangas, goiabas, cajus, carambolas e canas. 
    O cara virou bicho, duplamente falando! Vociferou cobras e lagartos e, como represália, fechou a única porta de saída do galpão para que ninguém saísse para as aulas sem antes ele descobrir o autor do "milagre da sementeira". Com o facão bramindo no ferro da porta, ele desfilava, segundo sua imaginação, os nomes dos prováveis responsáveis pelo estrago de sua tão querida e amada semeadura. 
    Ficou tenso o ambiente, mas ao final de quase uma hora de balangação de beiços, todos saímos ilesos às ameaças do marmanjo. Num acesso combinado de fúria e decepção com o estado da arte de sua obra prima, nosso promissor engenheiro florestal chutou e arremessou as bandejas para longe da varanda.
    Quase na saída do sítio, ouvimos ao fundo ele bradar: "_ PQP, essa M... não ia dar certo mesmo!"

(História de Vicente Luiz Cantini - 1974)


Capítulo 2

    Era meu 1° semestre na Rural, ano 1977, curso de zootecnia. Morava com mais 4 meninas no 49, todas "bichos", sendo uma delas da minha turma. Teríamos no dia seguinte uma prova de anatomia. O tempo era excasso para podermos memorizar todos os músculos, inserções, etc dos animais. O anatômico fechava muito cedo, mas descobrimos que uma das janelas estava com defeito e não fechava. 
Minha amiga, que tinha um fusquinha, e eu resolvemos entrar à noite por esta tal janela e roubar um cachorro, levá-lo para a nossa casa e estudarmos a noite toda. 
    Foi muito fácil, ninguém percebeu nada. O difícil foi devolver o animal no dia seguinte. 
    Como era dia de prova, o anatômico foi aberto muito cedo. Estava eu dentro da sala, e minha amiga com seu fusquinha encostado na janela, esperando uma chance de devolvermos o cão, e alguns alunos lá dentro estudando de última hora. Como fazer? 
    Acabamos tendo que contar para um amigo da nossa turma, que riu muito mas aceitou ajudar. Escancarei a janela. Minha amiga ligou o carro. Nosso amigo jogou o cão pela janela e correu. Foi um corre corre, todo mundo assustado. 
    No final, ninguém descobriu quem tinha jogado o cachorro. Dei tanta sorte que foi esse mesmo animal o escolhido para a minha prova. Hoje morro de rir ao lembrar da cara de desespero da minha amiga, com medo de sermos pegas em flagrante.

(História de Suely Frei - 1977)




Capítulo 1

Imagem do dia-a-dia no Restaurante Universitário da UFRRJ

    Comer no bandeijão da rural (Restaurante Universitário) é sempre uma oportunidade de reencontrar os amigos de outros cursos, fazer uma reunião com o pessoal da sua turma, ou juntar as moradoras do seu quarto, caso você more no alojamento... Agora comer no bandeijão sozinha pode ser um problema pra quem não tem boa memória. Quando lotado escolher o local que você vai se sentar pra comer tem que ser feito de forma friamente calculada, quem nunca deixou a bandeija em uma mesa, e foi buscar o suco e na volta parou com o suco na mão e ficou sem saber onde estava sentada? Aconteceu comigo várias vezes, de dar branco, e ficar pelo menos 5 minutos com cara de perdida procurando a bendita da bandeija, tentando visualizar alguma coisa que lembrasse o lugar, olhando a cor da roupa de alguém, ou o cabelo, ou alguma coisa que identificasse.
    Com esse histórico de esquecimento, nos últimos tempos tenho adotado uma estratégia que parecia infalível, sentar com pessoas conhecidas ou sentar sempre nas mesas mais próximas da saída. Mesmo assim não escapei de esquecer onde havia sentado, dessa vez nem estava sozinha, o que piora muito a situação, estava acompanhada de uma amiga. Quando fomos buscar o suco, por estar na frente, peguei primeiro, enquanto ela ainda enfrentava a fila, e fui caminhando pelo corredor do bandeijão até onde costumávamos sentar, lá no fundo do refeitório, sentei no lugar e olhei para a minha bandeja e percebi sutis diferenças no que tinha pego pra comer, já estava com os talheres nas mãos quando olhei em volta e percebi um monte de gente desconhecida rindo pra caramba, larguei o garfo, a faca e levantei do lugar, exatamente quando chegava a verdadeira dona da bandeja com os copos de suco nas mãos com cara de choque, peguei meu suco e olhei para o começo do corredor minha amiga ainda com o suco nas mãos morrendo de rir, eu me desculpei ao som de "Bixo" e essa virou uma história impossível de esquecer.

(História de Patrícia - 2010)